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Pelo "Sueño" É Que Vamos! – Campanha de Crowdfunding do Espectáculo "Sueño"

Pelo sonho é que vamos,

comovidos e mudos.

Chegamos? Não chegamos?

Haja ou não haja frutos,

pelo sonho é que vamos.

Basta a fé no que temos.

Basta a esperança naquilo

que talvez não teremos.

Basta que a alma demos,

com a mesma alegria,

ao que desconhecemos

e ao que é do dia a dia.

Chegamos? Não chegamos?

Partimos. Vamos. Somos.

Sebastião da Gama

Passamos cerca dum terço da vida a dormir. Dito assim, significa que não vivemos esse tempo?! Então, e o sonho? Não é ele, hóspede vitalício da casa do sono, o para lá da vida?! Se assim for, o sonho diz-nos que a vida não presta ou que não é suficiente?! Provavelmente, não diz nem uma coisa, nem outra! Talvez não haja nada mais misterioso que o sono-sonho, essa outra vida, a via paralela à própria vida. Há o sono dos justos, há o sono de pedra, há o sono eterno, há o sono hibernal e há até quem o tire, de entre todos, quiçá, o mais profano dos roubos! Há o sono fuga mundi, quando a vida pesa, há o sono ninho e anelo dos amantes e há o sempiterno sono inocente duma criança.

Do estar acordado dizemos vigia, senhores do movimento voluntário e operadores zelosos do radar da percepção. Mas não os há também no outro lado?! Por vezes, é difícil a destrinça. O sono, sabemos, repõe as energias, mas e o que faz o sonho? Arruma ou baralha? Como entender o que, pela sua própria natureza, é inapreensível? Há o sono inoportuno do narcoléptico, há o sono traído da insónia, há o sono descaminhado do sonâmbulo, há o sono que se veste de sonho, há o sonhoso que não quer despertar, há o realista que não quer adormecer porque, bem vistas as coisas, trocam-se as vezes e as vestes do seu papel, a um tempo bom e a um tempo mau. Se o sono é pesadelo, sabemos bem o alívio que dá quando a realidade desmente o que aconteceu tão verdadeiramente na nossa mente, mas quando todo ele é a fantasia que concretiza com uma mentira-verdade tão convincente o que não somos e o que não temos, quanto custoso é acordar nesse chão tão desmanchado!

É este território insondável, cujas fronteiras ténues são zonas efectivas, afectivas e simbólicas de aluvião de anseios e de medos, de tranquilidade e de perturbação, que Susana Alves Costa convoca e recria no espectáculo Sueño. E não é por acaso que o titula assim! Porque, por um lado filia-o na sua vivência em Espanha, onde obteve parte importante da sua formação artística, e, por outro, coloca o substantivo no idioma castelhano, que funde os significados de ‘sono’ e ‘sonho’, ao serviço da explicitação da relação ambígua entre sono e sonho, travejamento temático desta criação inscrita no âmbito do Novo Circo, ensemble multidisciplinar de teatro-físico, acrobacia aérea e de chão e dança e que encontra no artista Hélder Duarte o cúmplice de aventura mais-que-perfeito.

Ora, nada mais conforme ao sonho que a realidade de produzir um espectáculo. E é por querer sonhar convosco este Sueño que lançamos esta campanha de crowdfunding. Se acrobata significa literalmente pessoa que anda na ponta dos pés então, o contributo de cada um de vós é um pequeno-grande passo e com muitos pequenos-grandes passos, chegaremos ao palco do Teatro Meridional no dia 31 de Outubro, isto é: ao lugar concretizado do sonho a sua estreia, porque, afinal, Sonhar só pode ser a arte do possível.

Obrigado!

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