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«Gosto de me desafiar»

LUCIANA RIBEIRO. Tem experiência em teatro, televisão e cinema. Adora comédias e nunca nega uma tragédia. É atriz, professora e, mais recentemente, encenadora. Foi a última a juntar-se à Buzico! Agência, motivo mais que suficiente para ser a primeira a dar-se a conhecer numa conversa franca, feita de sorrisos, com cheiro a café e em que o passado marcou presença, mas em que o foco está no futuro.


O que é que estás a fazer atualmente?

Agora estou com um espetáculo em cena no Auditório dos Oceanos no Casino de Lisboa. Chama-se A Incrível Fábrica dos Oceanos e é um espetáculo musical para crianças. Estreámos em outubro, vamos estar até fevereiro em Lisboa. Depois vamos para o Porto e é possível que regressemos a Lisboa até meados de março. Entretanto também estou a dar aulas de voz.


E, mais recentemente, estreaste-te na encenação. Como é que foi essa experiência?

Foi no dia 3 de dezembro de 2016 com um texto do poeta Vasco Gato que se estreou na escrita para teatro. O espetáculo chama-se Daqui Ninguém Entra, foi um convite que me foi feito pelos atores da peça, a Inês Veiga de Macedo e o João Ascenso, e foi um prazer. Estivemos no Teatro da Comuna, em Lisboa, agora vamos fazer digressão e mais tarde o espetáculo talvez seja reposto na capital. Eu gostava muito...


Foi uma estreia como encenadora, mas já tinhas feito assistência de encenação...

Sim, já fiz, de facto, assistências de encenação e já comecei a fazer esse trabalho há muitos anos. Comecei com o Álvaro Correia, mas especializei-me mais, se é que o posso dizer, com o João Mota. Eu gosto muito da parte da direção de atores, mas achava que a encenação era mais que isso. Tem a ver com imagens cénicas que se criam e não tinha a certeza se estava preparada para fazer isso. Já tinha feito duas encenações com alunos, mas é muito diferente. Porque aí o objetivo é fazer com que aprendam, então atribuo personagens não de acordo com o que estão mais aptos a fazer, mas com o que têm de treinar mais. Neste caso foi à séria, mas adorei. Descobri que adoro o espaço cénico, adoro trabalhá-lo e fascina-me a ideia de criar imagens que possam ser quase quadros ou fotografias. Gosto das dinâmicas geométricas que se podem criar. Foi muito giro.


Referiste que estás em cena com uma peça de teatro infantil. É algo que já fazes há muitos anos, como é que tem sido esse trabalho?

São espetáculos exigentes por muitas razões. Primeiro por causa do público: as crianças não fazem fretes, não mentem. Ou gostam ou não gostam e eu adoro esse tipo de honestidade. Permite-nos ficarmos com os pés mais assentes na terra. É muito fácil deixarmo-nos levar por críticas positivas ou negativas e às vezes perdemo-nos nisso. Mas isto é um trabalho. Se tivermos problemas com o ego vamos fazer terapia. E as crianças são ótimas a fazer isso: gostam - gostam; não gostam - tudo bem. Depois são espetáculos que se fazem, muitas vezes, de manhã, por serem dirigidos a crianças. E fazer espetáculos de manhã é duríssimo, ainda para mais quando temos de cantar...


Ao vivo...

Ao vivo, sempre. E isso eu também adoro. Depois temos uma preparação da qual também gosto muito. Temos ensaios em que nos preparamos fisicamente, vocalmente, além da parte da interpretação e isso é muito engraçado. Eu adoro cantar, adoro transformar as canções em cenas e que não seja só "olha que bonito, estão a cantar, que linda voz". Não, gosto que seja o personagem a contar alguma história.


E por isso é que fazes teatro musical infantil há muitos anos.

Sim, eu já quando estive na Comuna fiz alguns. Na altura não eram musicais como estes, no sentido em que estamos a falar e, de repente, há uma música, mas já havia ali alguma aproximação a esta área. Neste caso, trabalho com a produtora Plano 6 desde 2007. Claro que há trabalhos que gostei mais, mas de forma geral, tem sido bom. Tenho aprendido muito.


O que é que tens aprendido?

Sei lá... Aprendi a andar de patins, tenho cantado regularmente, mexo-me muito melhor, aprendi a dançar...


Sentes que cresces nesses trabalhos?

Sim. O que me interessa nesta profissão é o sentir que estou sempre a ser desafiada e que tenho de aprender coisas novas porque, se não, tinha continuado a estudar Farmácia que era o que eu fazia antes e fazia sempre, mais ou menos, a mesma coisa. Aqui o que eu gosto é fazer coisas novas. É fazer coisas que achava que não era capaz de fazer ou que não sou, de facto, capaz de fazer e que vou à procura.


E foi à procura desse desafio constante que mudaste de curso e abandonaste a ideia de seguir Farmácia?

Na altura eu achava que queria ser médica porque desde miúda que queria ajudar pessoas. Depois fazia teatro na escola e bastou-se parar um ano para perceber que gostava mesmo de fazer aquilo. Continuo a adorar química e biologia e física e matemática, mas não me imaginava a fazer aquele trabalho para o resto da vida. O dia inteiro a olhar para um microscópio ou a trabalhar numa farmácia? Não. Queria viver muitas vidas numa e tomei uma atitude um bocadinho egoísta, na altura, porque percebi que não podemos ajudar os outros se não estivermos bem e eu não estava bem. E se o meu caminho para estar bem era seguir teatro, então, bora lá. As escolhas que fazemos nunca são para a vida. Na altura queria estudar teatro e até ver, é isso.


Há pouco referiste que davas aulas. Como é que é essa experiência?

Ora, eu nunca tinha pensado em dar aulas. Na altura foi um desafio que me foi lançado por uma colega de profissão, a Sofia Cabrita, porque ela dava escolas numa escola, no Evoé, e eles ficaram sem professor de voz e ela achou que eu tinha o perfil certo para fazer a entrevista com eles. Eu achei que não, mas fui à entrevista e fui escolhida. Na altura fui substituir a Sara Belo e ela quando soube que eu a tinha ido substituir, começou a dar o meu contacto noutras escolas sempre que era convidada e não podia. E foi assim que fui parar à In Impetus que é a escola onde dou aulas há mais tempo. Já lá estou há 12 anos. Depois fui começando a ser chamada para outras escolas.


Neste momento estás a dar aulas onde?

Na EPI, onde dou aulas ao 10.º, 11.º e 12.º. São adolescentes. Na AMA e na In Impetus, tenho adolescentes, mas sobretudo adultos e aqui as idades são muito variadas. A aluna mais velha que tive tem, neste momento, 68 anos.


E como é que esse trabalho com tantas gerações diferentes?

É engraçado. Eu na altura que comecei a dar aulas não achava isso. Achava estranho estar a dar aulas a pessoas mais velhas que eu. Mas depois percebi rapidamente que as aulas são um diálogo e não são só os professores a ensinar. No meu caso, tem-me ajudado muito. Sobretudo a nível vocal. Os alunos ensinam-me muito. O que eu mais gosto não é tanto a disciplina que leciono, o que eu gosto mesmo é dos alunos e de ver a evolução de cada um. Gosto de perceber o que posso descobrir com cada aluno e como é que podemos crescer juntos.


Ao longo do teu percurso já fizeste cinema e televisão. Como é que foram essas experiências?

Quando saí do conservatório comecei a fazer teatro. Fui recebendo convites de pessoas que tinham sido meus professores e que tinham companhias. O Bando e a Comuna, por exemplo. E na altura incutiam-nos na Escola que televisão era um meio menor e que cinema não se fazia em Portugal. Na altura também comecei a receber convites para televisão, mas como estava a fazer teatro, aceitava só pequenas participações, experiências muito pequeninas que me permitissem conciliar. Como eram personagens pequeninas, acabei por não usufruir do que é fazer televisão. Comecei a cansar-me de fazer esse tipo de papéis. Não por serem "pequenos", mas por serem personagens muito bidimensionais que não me permitiam jogar com as emoções ou crescer. Ou era a médica ou a psicóloga que ia só dar uma notícia, que entrava só em duas ou três cenas, e na altura não gostava muito de o fazer. Então fui deixando. Acho que nos últimos anos não tenho feito televisão porque não sou agenciada. Sou agora, pela primeira vez, pela Buzico!. Já quanto ao cinema, sempre quis muito fazer e não sabia bem porquê. Era uma intuição. E as poucas experiências que tive fazem-me dizer que, de facto, adoro fazer cinema. Por mim, fazia sobretudo cinema. Posto isto, agora que tenho um agente, espero conseguir fazer mais cinema e televisão. Gostava muito de fazer televisão à séria e adorava fazer cinema. Adorava. E teatro, claro. Tanto gosto de fazer espetáculos para crianças, como depois me apetece fazer algo para adultos. Quando trabalho para adultos, depois apetece-me trabalhar para crianças. Quando faço comédias, depois apetece-me fazer dramalhões ou tragédias. Eu gosto mesmo desta coisa da mudança. E acho que sou versátil, gosto de fazer coisas muito diferentes.


Podíamos ter começado esta conversa por perguntar quem é a Luciana, mas optámos por ir diretos ao que fazes, ao que tens feito e ao que queres fazer. Depois de sabermos tudo isso, queremos saber mais sobre ti, por isso, e para terminar: quem é a Luciana?

Epá... Então a Luciana é... Adoro falar de mim na terceira pessoa. A Luciana é espetacular! (Risos) Agora a sério... Nenhum ser humano é bidimensional, nós todos temos características que nos tornam mais cinzentos do que pretos ou brancos, mas alguns de nós têm características que, sendo diferentes, estão mais para um lado ou mais para outro. Eu tenho características que são, às vezes, muito contraditórias. Isto faz com que, como atriz, quem me vê fazer comédias ache que eu só sei fazer comédia, e quem me vê depois a fazer tragédia, acham que eu só posso fazer tragédias ou dramas. E eu sou assim na vida. Tenho facetas muito diferentes. Sou muito infantil e brincalhona e tonta, mas sou muito séria e contemplativa e pensativa. Sou muito generosa, mas também sou muito exigente. Sou um ser-humano normal, com qualidades e defeitos, sempre a crescer. E sou sempre diferente. A pessoa que eu era o ano passado não há-de ser a mesma que vou ser este ano, se tudo correr bem. Isso significa que estou a permitir que a vida me ensine, porque depois sou uma pessoa que gosta de aprender. E gosto de me desafiar e que me desafiem. E gosto de me sentir livre. E é como atriz que me sinto mais livre, na verdade. É isso.




Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico



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